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O abandono, o retorno e a ressaca

  • Foto do escritor: Caique Copque
    Caique Copque
  • 24 de mar. de 2023
  • 3 min de leitura

Alguns sentimentos são fáceis de reconhecer. Outros, é preciso uma vida inteira para ter consciência e é capaz de não sabê-los identificar.

Queria começar a escrita dessa reflexão-poesia como a escrita de uma carta de amor. Obvia, direta e até funcional. Afinal, o amor comunica e educa tanta quanto a dor; Mas, é preciso saber sentir.

Quando ainda menino, enfrentei situações que me pude observar o nascimento de algumas sensações, outras vi crescer e por fim, vi algumas e talvez a mais importante delas, morrer.

Tudo começa no amor. Definitivamente, é preciso que exista qualquer movimento químico e físico para que surja o interesse em qualquer coisa que seja. Assim, acontece com o amor.

Ele nasce da delicadeza, se nutre em ambiente terno e se desenvolve diante de muitos obstáculos. Mas, através desse obstáculos e da condução que se dá ao amor, ele transmuta, se reconfigura em outro sentido e como um câncer, busca a destruição.

Ainda menino, vi o amor caminhando em terrenos bem áridos, ríspido, pouco florido. Lembro de o ver correndo dentro de casa, imaginando estar em um campo de rosas. O amor nunca gostou de brigas. Mas sempre se via em uma. O amor também insistia em sorrir mais do que chorar. Ao menos era o que eu via quando era pequeno. O amor insistia em caminhar descalço em um terreno baldio. Lembro uma vez quando chegou visita lá em casa, o amor sábio que era, já identificava a chegada do ciúmes de longe, aí, o amor brigou para ter razão. Vê se pode?!

O amor foi crescendo e insistindo em brigar por ter razão, brigar por caminhar em terrenos mais férteis, mais estáveis, mais floridos... Mas isso nunca foi oferecido ao amor. O amor gostava de atenção, gostava também da presença de seus afetos em casa, em paz e saudáveis. Vi o amor mudar-se para muitas casas e perceber bem depois que nas mudanças, algo que ele nunca teve, ia junto: a mentira. O amor insistiu em lidar com isso. Em entender, em transformar, em reaver a segurança que havia se perdido entre uma mudança e outra... Mas acho que o amor adoeceu no meio de tantas e tantas caixas de sentimentos escondidos. Tempos depois, ainda doente e visivelmente cansado, o amor decidiu ir embora. Assim, como quem vê de fora e diz: "Foi do nada, não esperava por isso...". Mas o amor já sabia que daquele terreno, não brotaria nada além de dor. O amor pegou impulso para pular de um castelo alto e por incrível que pareça, o amor ao cair, não morreu.

Gosto de ver que os personagens que nomeio como "amor", "ciúmes", etc., são pessoas reais, do meu convívio direto. E, que até hoje, alguns dos personagens, não fazem ideia do que fizeram em suas próprias histórias. Nem pro bem do outro, nem pro mal de si. Simplesmente desconhecem o que viveram, criaram e sentiram. As consequências disso, pra alguns, é a memória ferida, questionamentos sem respostas e ciclos de repetição. Ninguém que viveu na mesma casa que o amor, saiu ileso. Todo mundo lá, tem a sua própria versão da história. Cada um, pode e deve chamar o amor, e a mentira por outros nomes. É natural. Mas todos sabem o que houve. E isso, não há como desconhecer ou ignorar.

Sinto que o amor, apesar das amarguras, caminha bem. Lida bem com a mentira e até rega em terrenos mais férteis pra si. Sei também que a mentira descansa em algumas caixas ainda não abertas lá no castelo. Sei de muita coisa do que vi. Observar o amor faz com que a gente se sinta (mesmo que não seja) sábio. A gente aprende, e infelizmente, erra por copiar o que viu.

-Caique Copque

24/03/2023.


 
 
 

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