O perigo das palavras sóbrias

Como num livro que para saber o que há ali, é preciso a coragem - ou em alguns casos, uma cabeça sã - para lê. A vida, também com seus mistérios de capa dura, coloca nos homens um medo tremendo ou uma insegurança profunda com as palavras faladas. Talvez por descuido da educação, talvez por vergonha dos dentes, talvez por não ter mesmo o que falar... Mas são assim, todos nós, os homens, problemáticos com a organização da linguagem articulada. Das vezes que os homens me disseram me amar, com desejo, com orgulho ou admiração, estavam todos mergulhados em alcool. "Eu te amo".

A frase com sete letras e três palavras parecem pesar um mundo na boca. Para cuspir, ou tragar: alcool. Não me importa as razões que se passam alí no consciente confuso e tresloucado de quem me diz isso. Mas penso: Por que sempre bebado? Será que sã, as palavras ditas num dia ordinário irão cortar o rosto, perfurar os tipanos e sangrar os olhos ao inevitavelmente visualiar a palavra como imagem ?

Somos então - os homens-, livros de capas duras escritos por um casal de bebados que não teve pulso de assinar o proprio nome na obra? De escrever uma dedicatória com amor aos proximos leitores? E vamos enchendo bibliotecas com livros de diversas edições: poket, ilustrada, revisada... Mas tudo sobre a mesma coisa: O medo do homem de amar. O medo do homem de assumir e assinar sóbrio com sua prória voz os termos que se recusa a ler e a falar. "Eu te amo, porra! Não é porque estou bebado não... (... É por quê, talvez, a bebida me ajuda a declamar ou que já li, ou que já leram pra mim, mas por medo ou incapacidade, eu não consigo falar. Perceba nesse movimento, a minha fragilidade em assumir que amo. Mas, não quero parecer fraco. Afinal, ler e falar sobre o amor, é para quem sabe amar: as mulheres. Nós, homens, como eu e você, devemos estreitar os olhos e cerrar os punhos. Prover a familia já é amar. Não trair quem divido a vida, - além de um favor- é amar. O que mais se precisa quando se tem na barriga comida e sobre a cabeça um teto? Nada! O amor que você quer ouvir é isso. O que nem todo mundo tem, mas insite em buscar: Afeto para se adorar. Eu não digo, mas faço. Eu não digo, mas tento. Eu não digo, mas bebo. Eu bebo... E sendo assim, escute: eu te amo.) Mas me orgulho muito de você".